sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Cortes Salariais – da ilusão à realidade


É sempre importante não apagar a memória. Em 2011, ainda em campanha eleitoral, Passos Coelho garantia aos portugueses que o PSD tinha feito muito bem as contas e que, para reequilibrar o país, não seria necessário cortar salários aos portugueses. Porém, cortou salários e cortou muito! O Governo PSD/CDS garantiu, contudo, que os cortes seriam provisórios e que não se alargariam para além do período da Troika. Não cumpriu! O Governo violou o princípio da confiança na palavra dada!

Diz agora o Governo, e a maioria parlamentar PSD/CDS, que não se podem repor os salários de um dia para o outro, porque há metas de défice a cumprir e, por isso, há que prolongá-los para além de 2014, mesmo que em dose diferente (por 2015 ser ano de eleições!). Ora, e quando asseguraram aos portugueses que os cortes eram provisórios até 2014 não sabiam já disso? É claro que sabiam! Mas também sabiam que arranjariam tempo e um argumento qualquer para dar o dito por não dito.

Não sejamos ingénuos: fosse por que motivo fosse, com a direita os salários baixariam sempre, porque há uma razão ideológica que se sobrepõe a tudo o resto. A direita tem como modelo a construção de uma sociedade e de uma economia de baixos salários, que permita objetivos de concentração de riqueza naqueles que têm maior capacidade económica e a desvalorização social do fator trabalho. Está na sua génese!

Ocorre que os acentuados cortes salariais foram um dos fatores que bastante contribuíram para o estrangulamento do nosso mercado interno e, portanto, da nossa economia. Sempre que o Tribunal Constitucional declarou inconstitucionais certos cortes, obrigando, nos termos da CRP, a aliviar um pouco a austeridade, imediatamente a economia ganhou logo um pouco de fôlego. Prova, portanto, que a austeridade é a forma de estrangular economia e, consequentemente, de secar a criação de riqueza no país. E prova, de outro prisma, que a dinâmica económica é a forma mais eficaz de quebrar dívida e défice.

E o que parece que já chateia sobremaneira os portugueses, é perceber para onde, afinal, tem sido direcionado o dinheiro que nos tiram, dos cortes salariais e de pensões, ou da brutal carga fiscal: já chateia tanto dinheiro gasto em juros da dívida e esbanjado nas manigâncias bancárias, em BPN, em BES e outros que tal.

Este Governo não conseguirá fazer diferente. Em certos momentos trabalha para iludir, para no momento imediatamente a seguir dar a pancada que atormenta e deixa mazelas graves!

artigo da Deputada do PEV Heloísa Apolónia, publicado no Setúbal na Rede

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