sábado, 8 de abril de 2017

"Aeroportos há muitos, seu palerma"

Artigo de opinião de Rui Lopo, membro do Conselho Nacional de Os Verdes e Vereador na Câmara Municipal de Barreiro, escrito para o Diário do Distrito:

"Aeroportos há muitos, seu palerma"


A saudosa frase podia, por caricato que pudesse parecer, aplicar-se a este tipo de infraestrutura, mas felizmente, só a escrevi para sublinhar a leviandade como o tema tem sido recentemente discutido.

E não venham as conversas de que só em Portugal é que isto acontece porque o "filme" repete-se nos outros países, mais a Norte e mais a Sul, com ou sem os copos que nos acusam de tanto gostar.

E porque é que a discussão se repete, e não apenas em Portugal?

Porque uma infraestrutura destas, catalisadora de tanta economia é disputada por qualquer território, região ou cidade. Porque revaloriza os terrenos, porque permite melhorar a especulação imobiliária que estagnou, etc.

E porque investimentos destes na ordem das centenas ou milhares de milhões de euros interessam a muita gente, não só pelo que podem ganhar com a decisão, mas porque dinamizam economicamente muitos atores.

Logo, as discussões racionais, técnicas e muito fundamentadas, são relegadas para um patamar secundário, porque se passa a ceder aos interesses e grupos de pressão, aos anseios de querer ser melhor que o outro, às expectativas legitimas mais ou menos localizadas.

E tudo mais confuso quando as decisões ou informações (ruído) sobre este investimentos são avançadas em período eleitoral, mais a mais, em período de eleições autárquicas.

É um facto que não há nem haverá aeroportos ao virar de cada esquina, pelo que a decisão de um novo na área metropolitana de Lisboa tem de ser feita com muita ponderação e reflexão. São infraestruturas para uma vida! Não há muitos aeroportos e quem decide é tudo menos "palerma"!

Ora um anterior governo havia decidido um novo aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete (territorialmente partilhado entre os municípios de Alcochete, Montijo e Benavente) e com ele a construção de uma ponte entre o Barreiro e Chelas com a componente ferroviária de alta velocidade.

Para além da questão da forma que enforma o processo de decisão, o calendário, a falta de diálogo, enfim, a construção do processo (que teria sido indispensável depois de se ter decidido em 2008 onde seria concretizada a infraestrutura), há que perceber os impactes que tal opção (a nova localização) tem sobre o território, nos ecossistemas, no ambiente (o trafego aeroportuário é fonte de imensa poluição atmosférica), no ruído, na mobilidade, na estrutura da margem sul, no que dela queremos... e a leitura que faço desta opção é que ficamos, na margem sul, com o parque de estacionamento dos aviões, com o ruído, com a poluição e o turismo vai para Lisboa (como se tudo isso só tivesse coisas boas para Lisboa). O pior mesmo é que tudo isto é assumido por causa das companhias aéreas de baixo custo, com a volatilidade que este negócio pode ter no tempo de vida de um aeroporto. Aliás, assistimos a uma companhia a desistir recentemente de uma rota para os Açores...

Por tudo isto e muito mais, seria muito mais lógico manter as opções tomadas em 2008, opções discutidas, avaliadas, que estruturavam o crescimento sustentado da área metropolitana de Lisboa, uma região unida pelo Tejo, uma cidade com duas margens, que ambiciona conseguir ter a escala de produto de outras cidades-região da Europa. Uma cidade que não pensa a margem sul como local para colocar apenas o que a margem Norte não quer ou onde não tem espaço para colocar, mas aquilo que estrategicamente faz sentido, o que seja a vontade das populações (da região e não apenas de algumas), potenciando as oportunidades que geramos.

Talvez seja de não reeditar a construção da ponte vasco da gama, que não estava planeada ser onde foi, que todos agora dizem ter sido um erro, mas o certo é que está lá. Ainda é tempo de evitar mais um erro de ordenamento do território e de desenvolvimento, porque efetivamente, aeroportos não há muitos...

Leia aqui o artigo de opinião publicado a 8 de abril no Diário do Distrito.

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